Rio de Janeiro

Por causa da distância, comecei a acompanhar tardiamente esses eventos no Rio de Janeiro. A primeira reação foi de choque. De outro lado, à medida que fui ficando a par dos fatos, comcecei a ter uma nova impressão.

Durante uma conversa com Lara, ela me mostrou um vídeo em que traficantes fugiam em motos, bicicletas, à pé. Era tudo feito de um modo caótico e desesperado. O interessante das imagens é que elas materializavam algo em que acreditava já há algum tempo , mas que soava meio absurdo. A minha crença era a seguinte: o crime no brasil, aquele que nos assusta, esse tráfico de favela, não é organizado. Muitos, porém, insistiam em se referir a essa criminalidade como se fosse uma espécie máfia italiana ou um subgênero dos carteis colombianos. Algo de uma complexidade absurda e de solução quase impossível.

A mim nunca pareceu necessário inventar a roda para resolver a questão da violência urbana no Brasil. De um modo bem genérico, a resposta se resumiria nas seguintes palavras: repressão e inclusão. O que faltava, em meu modo de ver, não era uma forma de lidar com o problema, mas vontade política de fazê-lo. O fato é que o confronto direto costuma gerar o caos, algo que tem o poder de repercutir negativamente na carreira desses políticos profissionais que infestam nosso país. Então, em vez de tomarem uma iniciativa dura, muitos governantes adotam a filosofia da sujeira debaixo do tapete e vão empurrando com a barriga até as próximas eleições.

Vendo, porém, a ocupação do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, dois baluartes da violência carioca, a impressão que tenho, e espero que seja mais que uma mera impressão, é que nós estamos vivendo uma ruptura radical na sociedade brasileira. Um momento de transição tanto numa perspectiva econômica quanto social. Parece que o futuro, aquele do qual tanto ouvimos falar, chegou. Tomara que tenha chegado mesmo!

4 comentários sobre “Rio de Janeiro

  1. Meu amor, falar em repressão e inclusão pode ser reducionista. Certo, as palavras são essas, mas cada uma delas tem uma infinidade de facetas que tornam tudo muito, muito complexo. Não acho que seja só vontade política, acho que é um problema que está enraizado, inclusive culturalmente. E como é que resolve cultura?

  2. Meu amor, entendo o que você está falando. Fui propositalmente reducionista pq o objetivo do texto não era discorrer sobre o que eu entendo por repressão e inclusão em minúcias. Só queria demonstrar que outros locais, como Itália e Nova York, conseguiram desarticular redes criminosas muito mais complexas e que o o Brasil também pode fazê-lo.

    A criminalidade organizada aqui, para mim, é outra e se materializa em figuras como Daniel Dantas, Salvatore Cacciola, Nicolau dos Santos Neto e cia. Essa aí sim eu acho que vai ser difícil combater.

  3. Mas você não acha que a criminalidade desorganizada pode ser ainda mais difícil de se combater? São meninos que são levados ao tráfico diariamente, um susbtituindo o outro.

    1. Difícil, no sentido de trabalho duro e diuturno, com certeza! De outro lado, não acho que seja difícil em termos de complexidadade da resposta a ser dada. É verdade que começava a existir nas favelas um elemento simbólico representado pelo tráfico que conseguia seduzir muitos jovens. Porém, à parte isso, meninos são levados diariamente à criminalidade por razões principalmente sociais. Outra consideração importatíssima é que aqueles que seguem por esse caminho são uma minoria. Olhe o tamanho das comunidades pobres no Brasil, sendo que, em sua maioria, seus habitantes são pessoas honestas e trabalhadoras. Desse modo, se o estado acena com uma política de inclusão, oferecendo educação, lazer e oportunidades de conduzir a vida de forma digna, a probabilidade de ver esse tipo de violência urbana praticamente eliminado é muito grande. Bem, isso é o que penso.

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